Esta história começa há mais de um século, quando Domingos Tellechea, imigrante basco originário do norte da Espanha, de Astigarraga, chega em Uruguaiana, no sul do Brasil, em 1865. Haviam também partido de lá outros irmãos. Alguns deles ficaram na Argentina, outros retornaram ao país de origem. Domingos trazia na bagagem, além do sonho da nova vida na América, o conhecimento do solo e a ligação com a terra. É assim que, em 1887, importa as primeiras videiras do Uruguai. Era casadio com Ramona Tellechea, também de sangue basco. E a marca que estes espanhóis imprimiram ao vinho foi a primeira herança que deixaram. A vinícola ganhou enorme reputação. Em 1901, na Exposição Estadual, estes vinhos receberam medalha de ouro. Domingos e Ramona tiveram nove filhos. Um deles foi João Francisco Tellechea. Ele herdou o amor pela terra, e mais do que isso, era também um empreendedor, um homem de grande visão empresarial. Iniciou suas atividades no comércio e logo passou também para a indústria. E teve a percepção de um negócio que seria uma das marcas da economia mundial no século XX: o petróleo. Em 1930, junto com o primo Eustáquio Ormazabal, foi o pioneiro na produção de derivados de petróleo no Brasil. Em 1936, essa iniciativa se multiplica na criação da primeira refinaria de petróleo em Uruguaiana. João Francisco era casado com Felisbina Bastos Tellechea, filha de Ângelo Martins Bastos, uma família de grande tradição rural. É assim que, também na década de 30, João Francisco e os irmãos de Felisbina criam a empresa Irmãos Bastos Ltda., dedicada à criação de ovinos e bovinos em Uruguaiana. Esta sociedade se prolonga até 1961 e se estabelece como uma das maiores empresas do setor rural gaúcho. Entretanto, o vôo solo de João Francisco havia se iniciado já em 1942, quando adquiriu a Cabanha Paineiras, de Baldomero Barbará, no distrito de Carumbé, em Uruguaiana. Já estavam nestas terras os plantéis de ovinos Romney Marsh e uma das primeiras criações de Aberdeen Angus do Brasil. E, desde então, a Paineiras nunca mais parou de crescer. Foram quatro os filhos de João Francisco e Felisbina: Roberto, João Francisco, Ângelo e Flavio. Os três pprimeiros se dedicaram mais a outros negócios da família, como o comércio e a indústria do petróleo. Mas todos, sem exceção, mantiveram suas raízes no meio rural. Flavio Bastos Tellechea sempre fez das lides de campo e da zootecnia sua maior paixão. Entretanto, esteve também ligado a empreendimentos cooperativos rurais e empresariais. Excerceu vários cargos, entre eles, o de vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo Ipiranga. No entanto, a formação, os estudos e a vocação de Flavio tiveram sempre como centro o campo. Formou-se em veterinária na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e se especializou em zootecnia na Argentina, em 1950. Três anos depois, naturalmente, assume a direção da empresa rural da família. É a continuação do trabalho do pai, João Francisco, e também o exercício da grande capacidade do administrador, zootecnista e criador, de Flavio Tellechea que começa a mostrar resultados. Destacam-se as cabanhas de Aberdeen Angus, Corriedale, Suffolk, Ideal e cavalos Crioulos. Flavio transforma-se numa referência da pecuária gaúcha e é convidado a julgar exposições de bovinos, ovinos e eqüinos nos Estados Unidos, Uruguai, Paraguai e Argentina. O casamento de Flavio e Lila Tellechea ocorre em 1955. Ela também trazia o amor pelas coisas do campo e um apreço especial pelos cavalos. A família de Lila era proprietária do Haras Chapéu do Sol, em Porto Alegre. Juntos, viveram uma relação de companheirismo, de trabalho, de respeito e cumplicidade. Tiveram quatro filhos: Maria da Glória, Maria Izabel, Flavio Antônio e Mariana. E tudo seguiu seu rumo de crescimento na administração e no rigor da seleção genética. O criatório se expandiu e foi necessário adquirir mais áreas. Em 1980, João Francisco Tellechea, tendo como administrador o filho Flavio, passa a seus filhos quatro propriedades, as Cabanhas Paineiras, Santo Antônio (herança de Felisbina Bastos Tellechea), Umbu e Sarandy. É fundado o Condomínio J.F. Tellechea, que é encerrado em 1984. As propriedades são divididas entre os filhos Flavio, Roberto, João Francisco e Ângelo Bastos Tellechea. Nesse caminho, porém, havia uma trajetória de sucesso que se traduzia em prêmios e remates. No antigo suplemento rual do Correio do Povo, de 1963, a cobertura da Exposição do Menino Deus registra: "Cabanha Paineiras de Uruguaiana absoluta na raça Aberdeen Angus". Em novembro de 1979, por exemplo, é realizado um remate considerado o maior da história da cabanha até então. Em 1983, o 26° Remate Anual da Paineiras é considerado o maior em termos de venda individual na história do Rio Grande do Sul. Houve, no entanto, perdas e dores nessa trajetória. Flavio Antonio Franco Tellechea, médico veterinário e herdeiro natural das propriedades da família, morre prematuramente em 1989. No ano seguinte, falece Flavio Bastos Tellechea. É quando uma mulher assume as rédeas do negócio: Lila Franco Tellechea com as filhas Maria da Glória, Maria Izabel, Mariana e a nora Cláudia. Lila é o esteio de força e firmeza que aglutina e preserva a tradição da Paineiras, com a marca BT ponteando nos cavalos Crioulos e na criação de Angus e Brangus. Mais tarde, Maria Izabel e Cláudia separam-se do condomínio FBT e seguiram caminhos próprios, com as estâncias Santo Antônio da askatazuna e Rincón Del Sarandy. O trabalho seguiu em frente com Lila e as duas filhas. As cabanhas são administradas em tempo integral por Mariana Franco Tellechea, médica veterinária, e Maria a Glória Tellechea Cairoli, responsável pela administração dos remates e eventos e pelo marketing. Os prêmios continuaram sendo conquistados em diversos campeonatos de bovinos em exposições em todo o país, e o afixo BT continuou brilhando no Freio de Ouro, a prova mais importante da raça Crioula. Tudo isso marca uma tradição, uma história com passado, presente e futuro. A sucessão de Flavio Bastos Tellechea é composta pelas cabanhas Paineiras e Sarandy, em campos próprios para a criação de Angus, Brangus e Crioulos e o cultivo de arroz, sorgo, azevém, cornichão e trevo. A filosofia da Paineiras se mantém, procurando sempre associar genética de ponta com produtividade. É uma história de mais de um século que segue seu curso também com a nova geração que vem chegando, todos marcados por uma paixão que atravessa o tempo: o amor pela terra que um dia aportou no pampa gaúcho, em Uruguaiana, no coração carregado de sonhos e esperança de Domingos Tellechea. |
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