No dia 9 de outubro de 1959, o Suplemento Rural do Correio do Povo registra: “Em primeiro de setembro chega a Uruguaiana o touro Jerome 174 de La Riconada, criado por Tavi S.A., adquirido pela importância de 300,000 pesos argentinos pelo criador Sr. João Francisco Tellechea [...] este touro Aberdeen Angus é um record absoluto pago por criador no Estado [...] Não queremos deixar de anotar a entrada no país deste destacadíssimo touro e fazemos votos que venham a melhorar os planteios de seus esforçados proprietários.”
Em 1963, este mesmo jornal registraria a Paineiras como “absoluta” na raça Aberdeen Angus na Exposição do Menino Deus, em Porto Alegre. Também a noticia do 15 Remate Anual da Cabanha, em 1972, revela: “Encontrava-se na pista central de remates o touro “Colossal”, importado dos Estados Unidos e que foi o grande campeão da internacional de Esteio. Como pano de amostra tinham os visitantes o melhor touro Aberdeen Angus que por aqui já aportou”.
Estes são alguns momentos que mostram o pioneirismo da seleção genética da Paineiras, um trabalho de mais de 80 anos. A cabanha também é pioneira na seleção de Red Angus no Brasil. Esse processo se inicia quando João Francisco Tellechea adquire a Cabanha Paineiras, de Baldomero Barbará, em 1942. É o chamado negócio de “porteira fechada”. E lá estaca, no criatório da estância, o plantel de Aberdeen Angus, Os Barbará tinham iniciado a criação de Angus em 1915. A Paineiras, assim, foi um dos primeiros criatórios do país, e desde então já se destacava pela qualidade desses animais.
Em 1953, Flavio Bastos Tellechea assume a gestão da cabanha e continua o aprimoramento genético. Alia a experiência campeira e o conhecimento zootécnico para observar a adaptação dos animais ao meio ambiente. Desenvolve um programa de melhoramento do plantel e importa o que há de melhor no Aberdeen Angus dos principais criatórios da Escócia, Estados Unidos e Argentina. No início da década de 60, começa a selecionar o Red Angus. Em 1966, importa ventres vermelhos da Argentina e, dois anos depois, faz uma importação de touros.
A adaptação ao meio, precocidade e grande fertilidade sempre nortearam a seleção de ventres da Paineiras, desde o lote inicial de vacas puras de pedigree desta cabanha. Como registra o artigo escrito por José A. Collares em 6 de agosto de 1965, no jornal Correio do Povo, sob o título “Lady Eurasian, a vaca que deixou 16 crias”. Esta matrona nascida em 16/11/1943 pertencia a João Francisco Tallechea, criação de Julio Perkins, da Cabanha Cascada, Argentina, e morreu em maio de 1965 aos 21 anos.
“[...] deixando 16 filhos, 23 netos, muitos bisnetos e tataranetos, isto só contando a descendência feminina, pois se fossemos somar o total de descendências pelo lado de um de seus filhos, é possível que só de puros de pedigree registrados, desse para povoar um pequeno estabelecimento com poucas quadras de campo. Entre algumas dezenas de milhares de ventres registrados no Herd Book Collares, a maior produtora deixou 17 filhos, figurando em seguida lugar com 16 crias a vaca a que estou me referindo, sendo que entre as duas existe uma diferença. A primeira não criou a maioria de seus filhos, enquanto “Lady Eurasian” criou todos.” Maruá da Glíria Tellechea Cairoli destaca: “Na Paneiras sempre buscamos animais extremamente adaptados ao meio, muito precoces, de tamanho moderado e de apronte muito rápido, com excelente qualidade de carne e bastante fertilidade”.
Em 1963 nasce a Associação Brasileira de Angus, Flavio Bastos Tellechea é um dos fundadores. Essa associação reuniu grupos de criadores que trocavam idéias e aprimoravam seus plantéis com a importação de animais de linhagens argentinas, inglesas e escocesas. Na década de 70, surgiu o “new type”, para aumentar o tamanho da raça, que predominou até o início de 80. O risco de perder rusticidade e prolificidade fez com que voltasse a importação de animais da Argentina, determinado um tipo de animal mediano, capaz de se alimentar e exercer bem as funções vitais. Flavio Bastos Tellechea presidiu a associação do Angus nas gestões de 1963/65 e 1969/71. Seu filho, Favio Antonio Franco Tellechea, também foi presidente na gestão de 1984/88. José Paulo Dornelles Cairoli, esposo de Góia Tellechea, também preside a Associação nos mandatos 2005 a 2008.
O intercâmbio e o aporte de conhecimento com os principais criatórios de Angus do mundo foram uma constante nesses anos todos. Flavio Bastos Tellechea foi o primeiro brasileiro a atuar nos Estados Unidos em 1971, foi jurado da raça Aberdeen Angus em Dallas. Também foi jurado em exposições na Escócia para atualizar os conhecimentos e estudar linguagens.
Essa tendência de intercâmbio e conhecimento continua na Paineiras. Lila Franco Tellechea, Mariana e Góia contam, desde 1990, com o consultor Francisco Gutierrez, filho de Horacio Gutierrez, grande amigo de Flavio Tellechea. Francisco pertence a uma família de tradição na criação da raça Angus na Argentina e é administrador da Cabanha Três Marias, grande vencedora de campeonatos na Exposição Internacional de Palermo.
São oito décadas de trabalho contínuo de aprimoramento do plantel e respeito a uma clientela fiel que tem na Paineiras uma referencia para o melhoramento genético. Isso acontece desde os primeiros remates, quando vinham criadores de todo o Estado a Uruguaiana em busca de touros. A tradição de um banco genético do Angus permanece. Nas pistas, os animais da Paineiras de destacam desde 1935, arrebatando os principais campeonatos da raça. Hoje, participam de exposições em todo o Brasil. |